Daqui a dez dias, milhares de estudantes de todo país terão como desafio defender uma ideia. Parece simples, mas a capacidade de argumentação, além do domínio da escrita, é o que diferencia o candidato que obtém uma boa nota na redação do Enem –exame que ocorre nos próximos dias 24 e 25 de outubro.
Como em anos anteriores, os cerca de 7,8 milhões de inscritos nesta edição da prova terão de escrever um texto dissertativo-argumentativo sobre um tema de ordem social, científica, cultural ou política.
"O candidato tem que necessariamente apresentar um ponto de vista. Tem que escrever uma ideia central, dois ou três parágrafos com argumentos e um último parágrafo com uma sugestão de como resolver o problema", explica o professor Marcos Magri, coordenador de português da empresa Adaptativa (parceira da Folha nos simulados do Enem e da Fuvest).
Para Eduardo Calbucci, supervisor de português e redação do Anglo Vestibulares, o Enem sempre traz uma proposta de tema atual, mas a escolha nunca é óbvia. "Melhor é não tentar adivinhar. O estudante precisa estar preparado para escrever sobre qualquer tema", diz.
Segundo Maria Aparecida Custódio, responsável pelo Laboratório de Redação do curso Objetivo, uma dica é prestar atenção aos assuntos em evidência no primeiro semestre do ano, época em que o exame é elaborado, e que permitam discussões sobre cidadania.
Luciana Migliaccio, a Lucy, professora do pré-vestibular do colégio Santa Maria (zona sul de São Paulo), alerta que um mesmo assunto pode ter diferentes recortes. Por isso, o estudante precisa seguir a abordagem apresentada na questão e fazer uma boa leitura dos textos de apoio. "E jamais desconsiderar a proposta de intervenção [solução para o problema apresentado], que vale 200 pontos", afirma.
Os candidatos podem tirar até mil pontos na prova de redação. No ano passado, de um total de 6,19 milhões de participantes, só 250 conseguiram a pontuação máxima. Cerca de 530 mil tiraram nota zero –os principais problemas foram deixar a prova em branco (281 mil) e fugir ao tema proposto (217 mil).
Leia a seguir algumas das apostas dos professores para o tema deste ano:
1 - Limites do humor
Neste ano, o debate foi motivado principalmente pelo ataque à sede do semanário francês "Charlie Hebdo". Entre outros temas, a publicação continha charges sobre o profeta Maomé, o que dividiu opiniões a respeito da liberdade de expressão e do potencial ofensivo das piadas.
2 - PEC das Domésticas
A regulamentação dos direitos dos trabalhadores domésticos, após mais de dois anos de discussão, pode aparecer na prova deste ano por ser um assunto que envolve cidadania e ainda enfrentar resistência de parte da sociedade, sugere Maria Aparecida Custódio, do Objetivo
3 - Mudança na condição social da mulher
A aposta de Magri, da Adaptativa, é a abordagem histórica de conquistas de direitos, da inserção no mercado de trabalho e da mudança no perfil das famílias, apontando para as desigualdades de gênero que persistem na sociedade. Para Lucy Migliaccio, do Santa Maria, a inclusão do feminicídio no Código Penal faz da questão da violência contra a mulher um tema provável.
4 - Mobilidade urbana
A disputa por espaço entre motoristas, ciclistas e pedestres e a necessidade de melhoria do transporte público nas grandes cidades são outras possibilidades para abordar a cidadania, diz Custódio. Um recorte possível é a defesa da educação no trânsito.
5 - Ambiente
Abrangente, a questão ambiental é sempre um tema possível. Mas, para Migliaccio, pelo fato de o Enem ser uma prova nacional, problemas enfrentados em todo o país, como a questão do lixo, têm mais chance de serem abordados do que a crise hídrica vivida na região Sudeste, por exemplo.
6 - Revolução digital
Magri sugere duas abordagens: o uso de ferramentas digitais nas escolas e o impacto das novas tecnologias no mundo do trabalho –como o novo perfil do trabalhador, a cultura do "home office" e o temor do desemprego, por exemplo.7 - Esporte
A discussão sobre o legado da Copa do Mundo, realizada no ano passado, e a expectativa sobre os Jogos Olímpicos de 2016 no Rio jogam luz sobre os investimentos no esporte, setor que, na avaliação de Custódio, pode ajudar na inclusão social do país.
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