segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Cunha reage à pancada de Dilma com… pancada!


Bem, queriam o quê? O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), deu à presidente Dilma Rousseff a mais óbvia de todas as respostas — eu mesmo já havia abordado a questão aqui no blog, de manhã. Para lembrar: numa entrevista concedida na Suécia, neste domingo, indagada se as acusações contra Cunha mancham a reputação do país, a petista afirmou que não, destacando, em primeiro lugar, que ele não faz parte do seu governo. Em seguida, disse a presidente: “Eu lamento que seja um brasileiro”.
Incrível, mas Dilma fez de conta — e a pergunta também facilitou o expediente — que não tinha e não tem nada a ver com o peixe, como se o escândalo não tivesse se dado, em boa parte, em seu próprio governo; como se a sua própria gestão não tivesse sido beneficiária da sem-vergonhice. E foi, não é mesmo? Afinal, uma das características da bandalheira era manter, vamos dizer, unida a base de apoio. Cargos na Petrobras foram usados para azeitar o esquema de propina de partidos políticos. E o PT, como se sabe, estava no comando.
Quando os jornalistas lhe perguntaram como respondia à afirmação de Dilma, disse Cunha: “E eu lamento que seja com um governo brasileiro o maior escândalo de corrupção do mundo”. Dito do outro modo: Dilma tentou jogar o escândalo no colo do presidente da Câmara, fingindo, ela também, que era ele o dono do bordel, e Cunha devolveu a gentileza. Quem está certo?
No roubo, a resposta, obviamente, é ninguém. No mérito da narrativa, é claro que a pancada de Cunha faz muito mais sentido. A menos que você acredite que era mesmo ele o chefe do bordel. Essa é uma mentira escandalosa, nem que as acusações contra ele sejam todas verdadeiras.
O presidente da Câmara negou que esteja pensando em renunciar ou que tenha decidido fazer algum acordo com o governo federal:
“Eu não estou trabalhando, nem buscando nem dependendo de apoio ou manifestação de apoio pela minha situação. Eu fui eleito pela Casa. Aqui só cabe uma maneira de sair, que é renunciar, e eu não vou renunciar. Aqueles que acham isso, não esqueçam, eu não vou renunciar”.
Segundo o deputado, ele não conta com o apoio certo nem mesmo do PMDB. Cunha voltou a se negar a falar sobre as contas na Suíça e disse que, a seu tempo, haverá a apresentação da sua defesa. Por enquanto, ele prefere o silêncio sobre o mérito, dizendo-se vítima de perseguição…
Pois é… Que se note: que ele desperte muito especialmente a atenção do Ministério Público — e de Rodrigo Janot, em particular — é evidente. Que não consiga dizer uma simples “não tenho conta na Suíça” também é. E por isso está numa situação tão difícil.
Por Reinaldo Azevedo

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