A sala "X" e o apelo de Dilma
* Amin Stepple
Os secretários de Estado norte-americanos não brincam em serviço. Quando os interesses dos Estados Unidos estão em jogo, pegam pesado. Nada de rapapés diplomáticos. Independente de quem esteja no poder, eles mantêm a tradição da política externa americana do grande porrete. Ainda em vigor (Afeganistão, Iraque, Síria). No entanto, às vezes, usam luvas de lã, para conseguir o que querem. Atribui-se ao subsecretário de Franklin Roosevelt, Adolph Berle Jr., uma frase que define bem a dinâmica indústria cinematográfica de Hollywood e a sua correlação com as conveniências da maior economia do mundo: "aonde as nossas imagens chegam, chegam os nossos produtos".
Os filmes, se sabe, sempre foram, e ainda são, o maior exportador do american way of life, com seus valores morais, sociais e ideológicos e a cultura do fetiche das mercadorias. "Os filmes funcionam como vendedores de produtos americanos. E vendedores bem vistos" (Berle, que foi embaixador do Brasil na era Vargas/Dutra). Tudo isso, ocidentalizados, conhecemos de cor e salteado, sobretudo salteado, consequência dos cíclicos voos de galinha da economia brasileira. Mais um, agora, para confirmar a boutade dos economistas. O cinema americano saiu na frente, desde a fase muda, e antecipou em décadas o que depois se denominaria globalização. É a "bala mágica". Com investimentos de risco, competência e tecnologia (e apoio do Departamento do Estado, surpresa?), impuseram, subliminarmente, os carros e jeans, armas e chiclete. Essencialmente, a sedução à sociedade de consumo, vitoriosa com todas as suas batatas à mostra nas vitrines.
Adoph Berle era esperto e malvado, mas não o tempo todo. Não se pode culpá-lo, por exemplo, do caso do "contrabando" do cigarro. A fumaça dissipou a malandragem. Hoje se sabe que, por trás do glamour das baforadas dos cigarros dadas pelos personagens nos filmes, havia um "pixuleco" da indústria tabagista aos grandes estúdios. Humphrey Bogart e o discreto charme do cigarro pendurado nos lábios certamente foram responsáveis por muitos pulmões nebulosos, ao redor do mundo. De qualquer forma, louve-se o talento dos produtores e a obsessão permanente pela qualidade. A influência persiste. Muita gente acha que só existem dois tipos de cinema: o americano e o ruim.
No front das imagens a serviço dos negócios, às vezes também há baixas. Na semana passada, a Playboy, outro ícone americano, anunciou que não vai mais publicar fotos de mulheres nuas. Claro, os produtos de alto luxo vão continuar sendo ofertados nas suas páginas. Mas a segunda expulsão das mulheres do paraíso não é uma concessão às feministas, que achavam a revista sexista. Muito menos às ameaças do Estado Islâmico. Deve-se, obviamente, à concorrência. A internet e os seus chamamentos pecaminosos vieram para ficar. Se quiserem, em tempo real, para todos os gostos. Não se sabe o que as feministas pensam das pesquisas que mostram as mulheres como assíduas consumidoras de filmes pornôs na internet. E é uma indústria que não para de crescer. Depois que a Hungria disse "adeus, Stalin", o país se tornou o maior produtor de cinema pornô da Europa. Antes, quando o regime franquista caiu, surgiram na Espanha, no processo de liberação, as salas "X", exclusivas para exibição de filmes pornôs. A internet é hoje a sala "X" de todo doce lar.
A presidente Dilma, preocupada com o voo de galinha da economia, sugeriu que os empresários aproveitassem a subida do dólar para exportar os nossos produtos. O que temos para exportar? Pelo que se lê, os chineses parecem propensos a retornar à sopa de gafanhotos. Não querem mais saber de minério de ferro, soja e frango. Por sua vez, o cinema brasileiro se viciou em favela, sertão e besteirol televisivo, mercadorias que, nem pelo exotismo, ninguém mais se interessa em comprar. O que sobra?
Diante da nova postura casta da Playboy, e em sintonia com o apelo da presidente da República, talvez se abra uma janela para exportação de um produto genuinamente nacional: as revistinhas pornográficas do genial Carlos Zéfiro. Os famosos "catecismos" enlevavam as fantasias de milhares de adolescentes, nos 60/70. Apoiada por uma publicidade massiva, inspirada na onda retrô, pode ser um potencial sucedâneo à Playboy. Com o desmanche do parque industrial brasileiro, só os "catecismos" de Carlos Zéfiro podem alavancar a carteira de exportação e ajudar o país a superar a recessão. A propósito, o economista Sergio Esquerdinha, leitor contumaz deste blog, possui uma rara e completa coleção das revistinhas eróticas de Carlos Zéfiro. Em bom estado de conservação. Soube que está à venda. Preço a combinar
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